10 outubro 2011

Um texto que produzi para refletirmos


O SINO TOCA

Hélvio Frank de Oliveira


Talvez escrever seja a maneira mais irônica de externalizar aquilo que dentro de mim insiste em (re)moer com relação a algumas circunstâncias e alguns papeis designados ao professor. Já vou alertando que não se trata de uma fábula, mas de um dramático acontecimento real. Alguns momentos, eu! Alguns momentos, conto!   

Houve-se um tempo, em que o professor era respeitado. Nesse tempo, não havia leis dizendo o que ele deveria (ou não) fazer com aqueles que não lhe prestassem o devido respeito. Ou, pelo menos, nesse tempo, talvez muitos infratores não soubessem sobre as leis com tanta veemência, por uma simples razão: para usá-las a seu bel-prazer e promulgá-las a favor de seus próprios direitos, sem observar que existem, do outro lado da própria moeda, os deveres.

Sobre esse processo de reinvindicação egocêntrico, sabemos que a mídia tem um papel fundamental. Todavia, maior que o poder midiático é a forma de alguns governantes, legisladores, ou quais sejam os autores dessas mirabolantes leis beneficentes, se ocuparem livremente do proceder e transferir, a meu ver, os limites que, antes eram dirigidos ao aluno e, hoje, passaram a ser remetidos ao professor. Agora, é o aluno que toca o sino!

Ficções à parte, conto isso porque durante minhas experiências profissionais em uma escola pública, percebi o quanto o aluno tem sido privilegiado por meio dessas gratificações em prol de torná-lo um cidadão, civilizado. O que também é muito questionável, mas não mereça mais linhas aqui! Essas garantias previstas em uma série de instâncias legais lhe garantem a vida digna escolar: o direito a uma segunda chance sob qualquer circunstância pedagógica. Só para ilustrar, eu posso citar a recuperação paralela!

Diante dessa opressão, enquanto professor, sinto que cada vez mais tenho meus pés e mãos atados para impetrar qualquer decisão, para tocar o sino. Se invisto numa dessas tentativas, ouço diretamente discursos do tipo: “Você vai fazer isso?!” ... “Mas temos que nos lembrar de que o aluno pode recorrer com isso, isso e isso”... E o grau hierárquico de quem, em tom preocupante, me alerta sobre tais possibilidades, sempre pesa em minha balança de decisões, a favor, claro, do aluno. Não gostaria de confusões em relação ao que entendo como limite. Tampouco de uma má concepção sobre o que quero para com os alunos. Eu apenas acredito que o limite é um elemento muito importante e necessário para a vida social representada em sala de aula, entre os muros da escola, tendo em vista as hierarquias. Nesse contexto, sou eu, professor, quem deveria tocar o sino.

Entretanto, há uma lista de legalidades que me impedem de agir. E confesso que estou ficando com medo de atuar! Ao mesmo tempo, questiono se o receio seria uma postura interessante em meio a essas propostas burocráticas de pseudo-democratas e representantes do bem estar social ao emitir papeis (nos sentidos denotativo e conotativo) sobre os deveres de um professor. Se brincar, o professor, além de suas obrigações de praxe, possui muito maior obrigação do que seus pupilos quando o assunto é aprender, ser educado, ser cidadão. Esses estatutos e papeis me enojam quando seus princípios não possuem como balizamento o equilíbrio entre o que é humano, pedagógico e o que não se enquadra dentro dessas categorias. Se esses papeis não fossem tão duros, eu os utilizaria para outro sentido, mas nem para isso eles servem!      

O fato é que o sino toca! Ah, “se toca”! Toca sob forma de alarme e de alarde. E cala a voz de quem tem teria algo mais a dizer. Mas o silêncio, a reflexão não se instaura. Infelizmente, esse alguém também é impedido pelas mãos daqueles que não têm ouvido e, num movimento de palmas, impelem o cessar daquele que ousa agredir tímpanos; outrora pelas mãos daqueles que entendem e sabem que o som emitido balança de alguma forma, em algum sentido. Mas não o impedem!

O sino toca! Entretanto, muitos desses que possuem mãos, certamente, não podem ouvir, pois não têm ouvidos ou não desenvolveram outras habilidades sensoriais e de bom senso. No máximo, possuem uma boca e, como não aprenderam a ouvir por falta daquele membro, não emitem sons inteligíveis, emitem barulhos. No fundo, não há nada dentro deles, a não ser um oco e eco a clamar por algo que os preencha. Retumbante! Definitivamente, eles clamam e é por isso que o sino toca. E toca. Alguns são tocados! Aliás, já é tarde, agora, vou me embora, pois se o sino toca, é hora de encerrar a aula.    

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