Outro dia comentei com um amigo
que não postaria mais textos em redes sociais. Estou convencido de que é
necessário continuar, apesar de que, se eles servem como indiretas,
infelizmente, devido a seu tamanho, quem os "merece" nem sempre os
lê. O fato é que não suportei e vou dizer o que acho da Copa e dos
acontecimentos que, por três dias, vi estampados em forma de textos (escritos e
visuais) e que, muitas vezes, apresentaram ideias estereotipadas, e o pior: sem
visão crítica e apurada desses fatos, mas (apenas!) com um reforço contundente
de compartilhamentos de ideias (clichês?) nas redes sociais. Primeiramente, é
importante validar que cada um tem o direito de expor o que quiser, é fato. Mas,
antes, seria necessário entender que o acontecimento Copa não é exclusivo de
uma decisão da Dilma, do PT etc. Existem outros poderes no Brasil que, sustentados
por votos provenientes de vários representantes de outros partidos, decidem tais
questões. Esclareço, para tal, que sou apartidário e também que não estou
fazendo campanha para a Dilma. Só acho indecente, por exemplo, que as pessoas nutram
fundamentos dos quais elas verdadeiramente não têm conhecimento e tampouco desejo
pleno de acesso a ele. Uma boa ilustração para esse exemplo são os vaias à
Dilma no Estádio na Abertura da Copa. De onde eles partiram? Seria interessante
começarmos a analisar que eles foram berrados por uma "elite" que,
diga-se de passagem, não me representa, por única justificativa: a manifestação
grossa e mal educada desse público, que pagou 990,00 por um lugar em
arquibancada de um Estádio em plena quinta-feira ou, então, que, no mínimo, foi
VIP, como ocorreu com o elenco da Globo, não fundamenta o sentido histórico e
totalizante de seu alarde naquele local e sua produção simbólica por parte daquelas
pessoas. Por outro lado, particularmente acredito que as manifestações sociais,
fora do Estádio e paralelas à realização da cerimônia, não precisam ser produzidas
no atual momento. Dois motivos: porque o holofote do mundo está no Brasil com a
World Cup 2014 e porque o evento está
e continuará a acontecer independentemente do alarde das reivindicações sociais
concomitantes. Que deixemos de engrossar o caldo produzido pela imprensa exterior
de que, no Brasil, as coisas não funcionam ou funcionam com o “jeitinho
brasileiro”. Até mesmo porque, no interior do Brasil, esse senso de pessimismo
a tudo que é relativo ao Brasil já é bastante legitimado por brasileirinhos que
desconhecem que, em outros (muitos!) lugares do mundo, coisas semelhantes
também acontecem. No atual momento, também é essencial respeitar quem gosta de
Copa e quem não gosta de Copa, quem vai se vestir de verde e/ou amarelo, e quem
vai se vestir de preto. Porque muitos também estão de luto por saber da
necessidade de uma transformação política que incida diretamente em vários
setores de nosso país: saúde, educação, segurança etc. Toda essa consciência
parte de uma concepção cidadã e de um eleitor decente e bem articulado. Talvez
fosse melhor que nosso próximo grito de manifestação seja validado nas urnas em
outubro, mas por uma massa de eleitores que não se cansa de averiguar processualmente
os fatos, para, depois, se posicionar. Aliás, é exatamente isso que está
faltando em nosso mundo globalizado, em que o acesso à informação (falsa ou
não!) existe, mas a forma de cuidar desse conhecimento obtido inexiste. Ou
seja, a informação vem, e o leitor (de Internet ou de face!), a partir dela, não
se impulsiona a novas leituras para averiguação do fato lido. Em pleno
comodismo, tal qual o de se sentar na cadeira almofadada em frente à tela, apenas
ingere a informação e a reproduz adiante num efeito de bola de neve. Isso pode
caracterizar uma espécie de alienação e, daí, sabe o que acontece, né?! Se essa
for uma mentira proclamada, a perspectiva é de que “essa mentira dita (e agora
no mundo moderno “compartilhada pelo face”) cem vezes passará a ser uma verdade”.
Que aprendamos a problematizar os discursos, sendo cidadãos autônomos e
usuários conscientes das ideologias que produzimos em rede.