14 junho 2014

O blá blá blá da Copa

Outro dia comentei com um amigo que não postaria mais textos em redes sociais. Estou convencido de que é necessário continuar, apesar de que, se eles servem como indiretas, infelizmente, devido a seu tamanho, quem os "merece" nem sempre os lê. O fato é que não suportei e vou dizer o que acho da Copa e dos acontecimentos que, por três dias, vi estampados em forma de textos (escritos e visuais) e que, muitas vezes, apresentaram ideias estereotipadas, e o pior: sem visão crítica e apurada desses fatos, mas (apenas!) com um reforço contundente de compartilhamentos de ideias (clichês?) nas redes sociais. Primeiramente, é importante validar que cada um tem o direito de expor o que quiser, é fato. Mas, antes, seria necessário entender que o acontecimento Copa não é exclusivo de uma decisão da Dilma, do PT etc. Existem outros poderes no Brasil que, sustentados por votos provenientes de vários representantes de outros partidos, decidem tais questões. Esclareço, para tal, que sou apartidário e também que não estou fazendo campanha para a Dilma. Só acho indecente, por exemplo, que as pessoas nutram fundamentos dos quais elas verdadeiramente não têm conhecimento e tampouco desejo pleno de acesso a ele. Uma boa ilustração para esse exemplo são os vaias à Dilma no Estádio na Abertura da Copa. De onde eles partiram? Seria interessante começarmos a analisar que eles foram berrados por uma "elite" que, diga-se de passagem, não me representa, por única justificativa: a manifestação grossa e mal educada desse público, que pagou 990,00 por um lugar em arquibancada de um Estádio em plena quinta-feira ou, então, que, no mínimo, foi VIP, como ocorreu com o elenco da Globo, não fundamenta o sentido histórico e totalizante de seu alarde naquele local e sua produção simbólica por parte daquelas pessoas. Por outro lado, particularmente acredito que as manifestações sociais, fora do Estádio e paralelas à realização da cerimônia, não precisam ser produzidas no atual momento. Dois motivos: porque o holofote do mundo está no Brasil com a World Cup 2014 e porque o evento está e continuará a acontecer independentemente do alarde das reivindicações sociais concomitantes. Que deixemos de engrossar o caldo produzido pela imprensa exterior de que, no Brasil, as coisas não funcionam ou funcionam com o “jeitinho brasileiro”. Até mesmo porque, no interior do Brasil, esse senso de pessimismo a tudo que é relativo ao Brasil já é bastante legitimado por brasileirinhos que desconhecem que, em outros (muitos!) lugares do mundo, coisas semelhantes também acontecem. No atual momento, também é essencial respeitar quem gosta de Copa e quem não gosta de Copa, quem vai se vestir de verde e/ou amarelo, e quem vai se vestir de preto. Porque muitos também estão de luto por saber da necessidade de uma transformação política que incida diretamente em vários setores de nosso país: saúde, educação, segurança etc. Toda essa consciência parte de uma concepção cidadã e de um eleitor decente e bem articulado. Talvez fosse melhor que nosso próximo grito de manifestação seja validado nas urnas em outubro, mas por uma massa de eleitores que não se cansa de averiguar processualmente os fatos, para, depois, se posicionar. Aliás, é exatamente isso que está faltando em nosso mundo globalizado, em que o acesso à informação (falsa ou não!) existe, mas a forma de cuidar desse conhecimento obtido inexiste. Ou seja, a informação vem, e o leitor (de Internet ou de face!), a partir dela, não se impulsiona a novas leituras para averiguação do fato lido. Em pleno comodismo, tal qual o de se sentar na cadeira almofadada em frente à tela, apenas ingere a informação e a reproduz adiante num efeito de bola de neve. Isso pode caracterizar uma espécie de alienação e, daí, sabe o que acontece, né?! Se essa for uma mentira proclamada, a perspectiva é de que “essa mentira dita (e agora no mundo moderno “compartilhada pelo face”) cem vezes passará a ser uma verdade”. Que aprendamos a problematizar os discursos, sendo cidadãos autônomos e usuários conscientes das ideologias que produzimos em rede.