16 abril 2015

Textos críticos 5

MYLENA

Acreditando que a prática educativa é norteada por princípios éticos e políticos, tem-se como finalidade da educação a busca por uma sociedade solidária e colaborativa. Desse modo, a educação é vista como um importante instrumento de mudança social.

Para que a educação seja emancipatória e solidária é necessário a quebra de paradigmas que fragmentam o saber, engessam a prática educativa, criam “verdades absolutas” e reforçam as características individualistas da nossa sociedade. Ao buscar uma educação compromissada com essa ruptura paradigmática - que almeja a autonomia do ser - é imprescindível que a formação de professores abarque essa discussão.

A partir dessa ruptura paradigmática há a compreensão de que a ciência contemporânea está envolta em incertezas e contradições. Nesse sentido, a prática pedagógica envolve a aceitação das incertezas e o reconhecimento de diferentes saberes. O conhecimento não é uma verdade absoluta impassível de questionamentos.

A aceitação da incompletude do conhecimento leva o professor a um constante questionar – a si mesmo, ao outro, aos saberes. Esses questionamentos refletem numa prática mais criativa que rompe com o papel de imobilidade diante de uma realidade social tão distante da almejada.

Nesse contexto, o ambiente de aprendizagem privilegia que o aluno - a partir de uma compreensão de mundo compartilhada - numa relação de cooperação com o seu grupo e suas peculiaridades, reconstrua de forma crítica as concepções que ele carrega baseado na sua experiência de vida.

Construir o conhecimento através dessas relações dialógicas cooperativas envolve a conscientização de si mesmo e do outro como seres integrais. Ser e saber são inseparáveis. A subjetividade é valorizada como parte do repertório do indivíduo,
interferindo na sua capacidade relacional e como ferramenta de compreensão de si mesmo e do outro.

A construção da autonomia acontece numa relação dialógica cooperativa. A cooperação conduz à autonomia. Essa construção pessoal exige interdependência - envolvendo a percepção e aceitação das diferenças - ao mesmo tempo que afasta o aprendente, progressivamente, da dependência.

Conclui-se, então que prática de um professor que tem como finalidade da educação a busca por uma sociedade solidária e colaborativa, e que acredita numa mudança social por meio de uma educação emancipatória, vai além dos atos pedagógicos isolados e do processo ensino-aprendizagem. Sua prática parte do compromisso com as suas concepções éticas-políticas, com a quebra paradigmática, com o eterno transformar-se, compondo-se numa relação dialógica e cooperativa com seres integrais. É necessário que o processo de formação desse profissional abarque essas características. 


VICTOR HUGO

A formação de professores é um tema que possui vários horizontes a serem pensados, inclusive pelas inquietações políticas e/ou teóricas. Para tanto, se faz necessário articular conhecimentos já produzidos historicamente no contexto histórico da Educação, com o movimento já reconhecido contra hegemônico e não linear de análise da sociedade, ou seja, confrontar a realidade da formação de professores frente a uma sociedade complexa.

A universidade, a sociedade e os seres humanos estão numa dinâmica que se articulam em formato de uma teia de vínculos afetivos, psicológicos e sociais, sendo que cada contexto revela diferentes particularidades e subjetividades dos sujeitos que ali estão. Por isso, se torna de extrema importância, viabilizar caminhos para compreensão dessas (novas) exigências, fazendo com que o ser humano seja respeitado em sua plenitude.

O objeto em questão, a formação de professores, deve ser entendida como um processo que percorre um emaranhado de relações de poderes, que estão intrínsecos em dimensões para além da academia. Sobre ela se unem várias formas de ensinar e outras diferentes maneiras de apreender, sendo necessário explicitar o atual papel dos agentes envolvidos no processo de ensinagem. Nesse caso, tanto o professor quanto os alunos são sujeitos detentores de uma cultura, de um estado emocional, de fatores sensíveis à realidade, por meio da qual realizam trocas de experiências e subjetividades. De modo que o processo de mediação pedagógica ocorre de forma colaborativa e intencional, envolvente dos pares em diálogo, ou seja, professores e alunos coconstroem o conhecimento.

A princípio, compreender que a sociedade é complexa, e necessita de movimentos didáticos pedagógicos sejam também complexos, é aceitar, diante da formação de professores, que não é possível apenas transmitir o conhecimento por si só, esquecendo-se das várias outras dimensões que percorrem a vida humana. É imprescindível se deslocar das raízes lineares da compreensão de mundo e ser humano, de forma que se inicie uma reflexão acerca da necessidade vital do conhecer o desconhecido, de que o conhecimento dado inicialmente muitas vezes torna-se somente o ponto de partida. Assim, tal posicionamento ancora-se no respeito às várias aprendizagens, nos diferentes tipos de apreender a coconstruir um conhecimento.

Então, o que se pretende não é somente descartar todo conhecimento produzido pelos teóricos do paradigma tradicional da educação, mas, conforme possibilidades apontadas por essa abordagem, estabelecer a necessidade de ampliar as capacidades da busca pelo novo. Nesse sentido, a compreensão do mundo está posta como inacabada e incompleta, sendo inesgotável sua compreensão.

A partir das reflexões é possível esclarecer sobre o tema uma questão, a formação de professores, que bravamente deve buscar superar a linearidade evidenciada ainda nos cursos iniciais de licenciaturas, procurando resgatar características de um marco teórico compreensivo da realidade. Para além disso, avançar em aspectos conceituais, procedimentais e atitudinais do conhecimento, reinterpretando os sujeitos numa ótica que respeite a complexidade dos diversos contextos dessa sociedade.

02 abril 2015

TEXTOS CRÍTICOS DO MIELT - 03

Ensino como prática social: formação de professores e educação básica
Rita de Cássia Moreira da Silva


Uma formação docente como prática social pode ser um bom caminho para chegarmos à humanização da educação básica. Esperamos formar nossos alunos dos ensinos fundamentais (I e II) e médio para que se tornem agentes ativos na/da sociedade em que estão inseridos. Mas os próprios professores, por vezes, não são formados sob tal perspectiva.

Mesmo nas universidades é possível perceber que existe uma relação de poder preestabelecida entre acadêmicos e professores formadores que inibe aqueles que estão sendo formados, e os coloca em uma posição de acumuladores de conhecimentos e teorias transferidos por aqueles que estão formando. É importante, porém, não generalizar, pois a universidade possui também professores incrivelmente humanizados e preparados para o papel de formadores.

É preciso refletir, porém, que, se os alunos para os quais lecionamos hoje, na educação básica, são apenas reprodutores de conteúdos apresentados a eles em aulas expositivas, muito disso é reflexo do que tem sido feito nas salas de aula dos cursos superiores de licenciatura. É importante pensar o processo de formação docente não apenas como um processo de formação profissional, mas como uma prática social de humanização e capacitação para que aquele sujeito/indivíduo que está sendo formado esteja preparado não apenas para ministrar aulas e expor conhecimentos aplicados a conteúdos, mas para pensar criticamente seu papel na sociedade. Não aquele papel de responsável pelos problemas e pela busca de possíveis soluções, mas aquele papel de cidadão que reconhece e reflete sua importância na construção da sociedade.

Para que possamos apresentar aos nossos alunos essa ideia de que eles precisam aprender a pensar, refletir, questionar de forma crítica, precisamos aprender, antes disso, nós mesmos, enquanto professores, a pensar, refletir, e questionar de forma crítica. Nós também acabamos, em algum momento, nos tornando repetidores daquilo que nossos professores formadores com visões mais tradicionalistas de ensino acabam nos mostrando nas aulas da faculdade. Enquanto professores em formação, também precisamos questionar as temáticas, os conteúdos, os métodos, as metodologias. 

Refletindo a respeito dos papeis desenvolvidos pelo professor e pelo aluno, tanto no processo de formação docente como no processo de ensino-aprendizagem da educação básica, penso que esse processo pode ser esquematizado da seguinte forma:

Ensinar não é papel exclusivo do professor. Aprender não é papel exclusivo do aluno. Ensinar não é o ato do professor de transmitir conhecimento. Aprender não é o ato do aluno de receber e reproduzir o conhecimento transmitido. Se olharmos o processo de ensino-aprendizagem, - tanto aquele que envolve o professor formador e o professor em formação em condição de aluno, como o que envolve professor e aluno nas escolas de ensino básico -, como uma prática social, percebemos que aprender e ensinar são papeis que ambos podem assumir, visto que o que há nesse processo não é uma transmissão de conhecimentos, mas uma construção de conhecimentos.

É claro que o professor assumirá um papel de mediador, organizador no decorrer desta prática, pois os alunos não são, ainda, autônomos. O professor deve possibilitar formas de desenvolver a autonomia do aluno, deve orientar, apontar caminhos, incentivar. Para que isso seja possível, porém, é necessário que, acima de tudo, o professor tenha conhecimento de para quem e para quê ele está desenvolvendo essa prática pedagógica. Não é possível tentar desenvolver a autonomia de um aluno se não se conhece esse aluno, se não se sabe até que ponto ele é ou deixa de ser autônomo, construtor do próprio conhecimento. Por tal motivo, essa prática pedagógica como prática social exige flexibilidade e contextualização.

Flexibilidade porque o professor, enquanto mediador da construção de conhecimento, precisa perceber e compreender os efeitos que suas diversas estratégias de ensinagem têm sobre os seus alunos, para reforçá-las quando obtiverem sucesso, e modificá-las quando não derem bons resultados. Contextualização porque, para colocar em pauta uma prática pedagógica que se baseia na formação de cidadãos pensantes, reflexivos e críticos, essa prática precisa estar atrelada ao contexto social/real daqueles que estão sendo formados.


Docência do Ensino Superior: desconstruindo paradigmas

Thiffanne Pereira dos Santos


A sociedade atual vive em um contexto onde as exigências sobre a atuação de cada sujeito aumentam a cada dia. Para atender as demandas que emanam desse novo cenário, é necessário que se promova uma formação que estimule o desenvolvimento de diversos aspectos, inclusive o emocional. Para isso, é preciso desconstruir o paradigma tradicional veiculado à docência do ensino superior e buscar novas alternativas para aprimorar o processo de aquisição de saberes.

No paradigma tradicional, a preocupação está centrada na transmissão dos conteúdos pelo professor. Cabe a ele ensinar e explicar aos alunos, de forma clara e acessível, aqueles conteúdos que considera como essenciais para a formação deles. Esse professor, “ao tomar a simples transmissão da informação como ensino, [...] fica como fonte do saber, tornando-se no portador e na garantia da verdade” (PIMENTA; ANASTASIOU, 2005, p.207).

Assim, o professor é o detentor do saber e o aluno é visto como um “copo vazio” que precisa ser preenchido por meio da transmissão de novos conhecimentos. O aluno que consegue aprender todo o conteúdo transmitido e alcançar os resultados esperados é considerado apto para desempenhar seu papel na sociedade.

Desse modo, nesse paradigma, não há a problematização do que é ensinado. O sucesso do aluno é representado apenas por sua capacidade de decorar os conteúdos e depois reproduzi-los em testes e avaliações. Tal perspectiva de docência, já não é mais suficiente para atender às demandas da sociedade emergente que, por sua vez, exige dos sujeitos novas habilidades e competências.
Na sociedade emergente, os sujeitos precisam estar preparados para lidar com o incerto e com as situações inusitadas. Por isso, a formação oferecida aos alunos não pode estar focada apenas na transmissão de conteúdos. Precisa também estimular habilidades relacionadas à inteligência emocional. Diante dos problemas e incertezas impostas pelo cenário atual, cada aluno deve ser capaz de lidar com os problemas de forma consciente ao mesmo tempo em que reformula seus conhecimentos.

Dessa forma, a formação de cada sujeito vai sendo aprimorada à medida que ele cria novas formas de trabalhar, de se relacionar e de lidar com os problemas. Não há uma formação definitiva sempre há espaço para novas aprendizagens, “isso pressupõe um perfil de formação inacabado, um conceito de formação permanente, contínua, especializada, em ação” (ALARCÃO; TAVARES, 2001, p. 103).

A docência do ensino superior deve almejar a formação de sujeitos autônomos, reflexivos e capazes de questionar os conhecimentos que são apresentados a eles. Os alunos devem aprender a inquietar-se diante dos saberes que são considerados verdades absolutas. Para tal, é fundamental que se desenvolvam práticas que estimulem à construção do conhecimento e à autonomia dos alunos nesse processo.

Por fim, não há mais espaço para uma formação com vistas à mera transmissão de conteúdos do professor para o aluno. Ao contrário, emerge a busca por uma docência do ensino superior que incite a reflexão, a autonomia, o diálogo e a construção de habilidades que auxiliem na superação dos novos desafios impostos pela sociedade atual.

Professor: de “modelo e guia” à parceiro ativo e motivador

Luciana Ribeiro Alves Vieira


A questão da qualidade do ensino superior, com ênfase na formação de professores, está em voga, visto que há uma emergente necessidade de preparar professores e alunos para as novas realidades educacionais, levando em consideração que estamos vivendo em um mundo altamente tecnológico, rico em diversidade e em desigualdades.

Se estamos na era da comunicação, como não nos comunicar? Como não buscar novas aprendizagens, novos saberes e novas maneiras de construí-los e disseminá-los? Como não buscar novas estratégias para aperfeiçoar esse trabalho tão humanizador, realizado por sujeitos responsáveis pelo seu processo educacional?

Quando refiro-me à processo educacional, este vai muito além dos muros das escolas. Estou falando de vida, afinal, o processo é lento e contínuo. Todo ser humano aprende e ensina algo a alguém todos os dias de sua vida e nas mais variadas situações. Mas o professor tem um diferencial: fez deste processo a sua profissão. 

Esse professor, que durante um longo período da história humana foi tido como “mestre, modelo e guia”, vem assumindo um outro papel na sociedade. Um papel mais amplo, de verdadeiro profissional da formação humana. E para que esse novo papel, essa nova postura se estabeleça, de fato, muitos paradigmas devem ser rompidos e/ou “desformatados”. 

A ideia de professor como mestre, dá-nos a ideia de respeito, porém, a falsa superioridade que ela nos impõe, não é salutar. Outorgar ao professor o título de autoridade máxima do conhecimento implica reduzir o direito do aluno de apenas moldar-se de acordo com os padrões estabelecidos, produzindo alunos sem cor, sem voz... Meras sombras de seu condutor em busca da hegemonia de um grupo. 

Romper com esse paradigma tradicional exige muito além de boa vontade, pois para tal, é preciso superar abordagens que estão arraigadas na formação de todos nós, como alunos, professores... como gente. É preciso coragem, disposição e disciplina intelectual para criar, compreender, inventar e reinventar-se nesse processo de descoberta do mundo.

É difícil buscar a mudança enquanto tudo à sua volta conspira para o “fazer sempre igual”, e “sempre deu certo”, “é mais seguro assim”. Essas são falas rotineiras dos autores principais que escrevem todos os dias a história de (in) sucesso da escola. E eu faço parte desse grupo ainda tão despreparado para lidar com formação de gente, mas não me enquadro mais na condição de falsa autoridade do saber, onde a simples repetição é tida como ato de aprendizagem.

Buscar a formação continuada, refletindo no processo de construção do conhecimento, bem como no próprio processo de constituição enquanto professor é o primeiro passo para se preparar para ser um formador, um pesquisador investigador com novos conceitos do que vem a ser educação. Refletindo constantemente sobre a práxis é que podemos auxiliar diretamente os alunos a terem uma visão mais ampla desse mundo e descortiná-lo, reconstruí-lo.

A atual geração não se subordina aos mais velhos como antigamente e o respeito à hierarquia deve ser conquistado e não imposto como no paradigma tradicional. Para os jovens que não veem mais a educação como uma ascensão profissional, o futuro é hoje e precisam de motivação para buscar essa educação, os conhecimentos. Daí a necessidade de professores e alunos pensarem juntos, pesquisar, ouvir um ao outro, instigar e investigar; ir além, voltar e analisar o que já foi feito, dando continuidade às descobertas, às aprendizagens de fato construídas, valorizando as relações interpessoais, onde os sujeitos mais do que se completam... se “transbordam”.

Na sociedade da comunicação, é preciso uma formação mais humana, mais emocional, com mais espaços para o diálogo, confronto de ideias e troca de experiências... mais autonomia e responsabilidade para os sujeitos criarem, inovarem e divulgarem. 

É uma pena que não entendamos a amplitude do processo educacional enquanto estamos nos formando para sermos professores. Em minha graduação, senti em poucos professores essa “fome” por contaminar o outro com o espírito da busca (talvez estes também ainda não tivessem sido contaminados). E foram poucos os que tentaram romper em mim a ideia de professor “mestre”. Hoje vejo que minhas limitações intelectuais também podaram minhas construções nesse período e é por isso que tenho certeza que momentos de reflexão, de trocas, de análises grupais, poderiam e deveriam ser a base do currículo de cursos de formação de professores. Currículo este que deveria ser permeado pela emoção intelectual... uma emoção contagiante e emancipatória, preparando-nos para a busca de uma vida melhor.

Com a jornada já trilhada até aqui e após tantas experiências concretas vivenciadas com alunos de diferentes faixas etárias, já consigo me perguntar: o que eu faria de diferente? O que farei de melhor daqui pra frente? Já consigo me despojar do mestre modelo para tentar ser parceira ativa e motivadora? Estou caminhando...

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14 junho 2014

O blá blá blá da Copa

Outro dia comentei com um amigo que não postaria mais textos em redes sociais. Estou convencido de que é necessário continuar, apesar de que, se eles servem como indiretas, infelizmente, devido a seu tamanho, quem os "merece" nem sempre os lê. O fato é que não suportei e vou dizer o que acho da Copa e dos acontecimentos que, por três dias, vi estampados em forma de textos (escritos e visuais) e que, muitas vezes, apresentaram ideias estereotipadas, e o pior: sem visão crítica e apurada desses fatos, mas (apenas!) com um reforço contundente de compartilhamentos de ideias (clichês?) nas redes sociais. Primeiramente, é importante validar que cada um tem o direito de expor o que quiser, é fato. Mas, antes, seria necessário entender que o acontecimento Copa não é exclusivo de uma decisão da Dilma, do PT etc. Existem outros poderes no Brasil que, sustentados por votos provenientes de vários representantes de outros partidos, decidem tais questões. Esclareço, para tal, que sou apartidário e também que não estou fazendo campanha para a Dilma. Só acho indecente, por exemplo, que as pessoas nutram fundamentos dos quais elas verdadeiramente não têm conhecimento e tampouco desejo pleno de acesso a ele. Uma boa ilustração para esse exemplo são os vaias à Dilma no Estádio na Abertura da Copa. De onde eles partiram? Seria interessante começarmos a analisar que eles foram berrados por uma "elite" que, diga-se de passagem, não me representa, por única justificativa: a manifestação grossa e mal educada desse público, que pagou 990,00 por um lugar em arquibancada de um Estádio em plena quinta-feira ou, então, que, no mínimo, foi VIP, como ocorreu com o elenco da Globo, não fundamenta o sentido histórico e totalizante de seu alarde naquele local e sua produção simbólica por parte daquelas pessoas. Por outro lado, particularmente acredito que as manifestações sociais, fora do Estádio e paralelas à realização da cerimônia, não precisam ser produzidas no atual momento. Dois motivos: porque o holofote do mundo está no Brasil com a World Cup 2014 e porque o evento está e continuará a acontecer independentemente do alarde das reivindicações sociais concomitantes. Que deixemos de engrossar o caldo produzido pela imprensa exterior de que, no Brasil, as coisas não funcionam ou funcionam com o “jeitinho brasileiro”. Até mesmo porque, no interior do Brasil, esse senso de pessimismo a tudo que é relativo ao Brasil já é bastante legitimado por brasileirinhos que desconhecem que, em outros (muitos!) lugares do mundo, coisas semelhantes também acontecem. No atual momento, também é essencial respeitar quem gosta de Copa e quem não gosta de Copa, quem vai se vestir de verde e/ou amarelo, e quem vai se vestir de preto. Porque muitos também estão de luto por saber da necessidade de uma transformação política que incida diretamente em vários setores de nosso país: saúde, educação, segurança etc. Toda essa consciência parte de uma concepção cidadã e de um eleitor decente e bem articulado. Talvez fosse melhor que nosso próximo grito de manifestação seja validado nas urnas em outubro, mas por uma massa de eleitores que não se cansa de averiguar processualmente os fatos, para, depois, se posicionar. Aliás, é exatamente isso que está faltando em nosso mundo globalizado, em que o acesso à informação (falsa ou não!) existe, mas a forma de cuidar desse conhecimento obtido inexiste. Ou seja, a informação vem, e o leitor (de Internet ou de face!), a partir dela, não se impulsiona a novas leituras para averiguação do fato lido. Em pleno comodismo, tal qual o de se sentar na cadeira almofadada em frente à tela, apenas ingere a informação e a reproduz adiante num efeito de bola de neve. Isso pode caracterizar uma espécie de alienação e, daí, sabe o que acontece, né?! Se essa for uma mentira proclamada, a perspectiva é de que “essa mentira dita (e agora no mundo moderno “compartilhada pelo face”) cem vezes passará a ser uma verdade”. Que aprendamos a problematizar os discursos, sendo cidadãos autônomos e usuários conscientes das ideologias que produzimos em rede.  

29 abril 2013

Você pode escolher não ser professor.


Outro dia algumas pessoas me olharam torto depois de uma bela sugestão dada a um aluno de licenciatura do terceiro ano de um curso de minha cidade. Sim, ele havia postado em seu facebook o descontentamento em descobrir, em plena metade do curso de formação docente, que não era “isso que ele queria” para sua vida. Não perdi a oportunidade e lhe disse que ainda estava em tempo a desistência e a procura por outro curso do qual ele se agradasse mais. Percebi que não houve respostas de sua parte, tampouco “curtidas” em relação à minha postagem. Entendo bem o silenciamento dele e os discursos de outros comentadores que prosseguiram em aconselhá-lo para terminar o curso, mesmo que ele não se simpatizasse por aquela graduação. Refleti. Fiquei curioso para saber as motivações de algumas daquelas pessoas para estimular aquele licenciando a insistir na frustração de persistir em algo que ele próprio rejeita. Continuei a ler os comentários e houve um que me inculcou ainda mais: o produzido por uma recém-egressa de outro curso de licenciatura em que, de forma defensiva, construíra seus argumentos em favor do rapaz e com base em sua experiência efetivada no processo de formação docente. Disse em mau português: “[...] esse estágio é só teoria e enjoo (acredito que o complemento aqui é destinado aos professores orientadores de Estágio). Na prática não acontece nada do que os professores pedem e exigem para que seja feito”... Concordo em partes, mas isso é outro assunto. Concordo, mas não porque o texto agora é meu! Eu aconselhei o aluno a desistir do curso por um simples fato: não quero que aconteça no futuro, para o bem da qualidade de educação de nossos filhos, que ele venha exercer uma profissão pela qual ele não se simpatize. Porque nunca se sabe o que pode acontecer num mundo capitalista como este em que vivemos. Vai que, em um belo dia, ele acorde desempregado ou mesmo insatisfeito com sua outra profissão e, em busca de uma renda boa, resolva fazer um concurso público docente pensando na tranquilidade de uma carreira pública e estável. Sim, digo renda boa, porque, por mais que reforcemos que o professor não ganha bem, ele, ainda sim, ganha muito melhor do que muitos outros profissionais em nosso contexto. Inclusive conheço algumas dúzias de pessoas que abandonaram outra carreira para assumir a sala de aula. Todavia não sei se era por pura paixão pela arte docente, pelo desejo cidadão de mudança social ou pela garantia de um plano de saúde ou de uma futura aposentadoria. Afinal, vale tudo nesse mundo. E qual seria o valor do professor nesse mundo?! Talvez sendo triplicada a carga horária da profissão docente, em três turnos, some-se um bom valor. Talvez aliando a docência à outra profissão seja uma forma de se obter um bom orçamento. O curioso é que um futuro professor, outro dia, me disse (e eu registrei em pesquisa!) que ele pretende conciliar a docência com seu outro afazer para somar capital. Claro que essas são apenas ilustrações comuns. Contudo, gostaria de refletir até que ponto o professor pode ser um bom profissional pensando na docência como um modo de fazer “bico”? De outro ponto de vista, como o professor pode ser um bom profissional se hoje, em nosso contexto, ele é descartado pelo Estado no prazo de um ano sob um contrato em que se paga uma merreca? Compreendi que, desse jeito, não vale muito. Aliás, nem vale a pena! Não obstante, durante todos esses anos, na condição de formador de professores, sempre vejo cenas de comodismo e de descaso de alguns  professores que estão na escola apenas para cumprir seus últimos anos para se aposentar ou para pedir uma licença prêmio (olha o nome da recompensa!) etc. Nessa hora, tenho pena dos alunos em ter de suportar um professor desses em sala de aula. Se, como dizem as teorias, a identidade docente é também (des)construída ao longo da observação de aprendizagem (LORTIE, 2002), ou seja, o aluno, na condição de aprendiz, observa modelos sobre como “ser ou não ser professor” a partir da atuação que ele observa de seu mestre na profissão, imagine que concepção tal pupilo pode construir acerca do professor que está ministrando aula desmotivado, não gostando do que faz ou esperando apenas o dinheiro entrar em sua conta no fim do mês? Não esqueçamos que a profissão docente, diferentemente de muitas outras, é interativa. Não mexemos com papéis ou peças inanimadas, nossas relações sociais preveem o ser humano que, em todo momento, (re)age conforme nossas respostas e (atu)ações socioculturais e, por tabela, constitui-se e nos constitui via língua(gem). Daí, entendemos porque não devemos maldizer a nossa profissão em sala de aula. Entendemos os resultados de um estudo implementado em mais de 1500 escolas do país em que se observou que apenas 2% de alunos de ensino médio desejam ser professores. Ou seria muito ingênuo perceber que, pelo menos, parte das equivocadas concepções, ou melhor, parte do estado ruim generalizado pelo imaginário social atual acerca da carreira profissional do professor não contém resquícios representativos dessas condições e significações produzidas? Seja isso pelo que se faz ou pelo que se fala. Tenho trabalhado com dados que me levam a crer que muitos professores em formação não querem ser professores, mas caso haja um concurso público para a área, com toda certeza, todos os pesquisados fariam. Daí, questiono o que essa atitude pode produzir em termos de qualidade educacional, de construção do imaginário social da profissão, de proposta emancipadora aos nossos alunos. Desculpem-me, mas, entremeio às ações desses tipos de professores (aqueles que querem formar o seu pé-de-meia e não o aluno) quase só vejo elementos capitalistas neoliberais previstos em uma sociedade mercadológica, por sua vez, preocupada com contas e números. E isso não é um tipo de valor que minha profissão me permite acreditar que seja o ponto fundamental. Mais ainda: não é uma perspectiva que construo com meus alunos, futuros professores em formação inicial. Para mim, nesse caso, vale o consenso de que a qualidade nunca poderá ser medida em termos de quantidade.