30 setembro 2011

 
Cada dia mais me convenço da grande tarefa de ser professor: propiciar e garantir meios que permitam com que os alunos tenham interesse em ir para a escola para aprender alguma coisa, quando, na verdade, é possível perceber cada um deles munidos (ou não) de motivações diferenciadas. Depois de saber disso, a grande sacada, agora, seria prover tais meios para que, se não todos, pelos menos boa parcela desses interesses e pupilos, de alguma forma, sejam alcançados. De qualquer forma, não deixa de ser um grande desafio!

12 setembro 2011

Bad Teacher, professora sem classe, e a/s classe/s desse profissional

Hélvio Frank de Oliveira

Gosto das traduções que evidenciam, em sua manifestação de significado, o caráter contextual e cultural para denotar referências de sentidos para algumas palavras. Mais ainda, adoro imaginar a possibilidade de brincar com esses termos por conta de seus inimagináveis efeitos de sentidos propostos por seus múltiplos significados, que, inclusive, podem atravessar fronteiras.  

Assistindo, recentemente, ao filme Bad Teacher, com tradução perfeita para o português brasileiro de “Professora sem classe”, mais do que ver Cameron Diaz protagonizando e recebendo severas críticas dos sábios da sala escura, foram outros holofotes que despertaram minha atenção. Como professor formador de professores, ao sair da sessão pipoca, pensei: vou escrever um texto sobre o tema! Tudo isso, porque imagino que a trama de ser professor na vida real contorna os seguintes ares de ficção: a formação para lidar com as complexidades da sala de aula contemporânea, a aprendizagem de alguns alunos “especiais” e a preocupação do governo com a Educação.

O que se torna real ou concreto, de modo geral, parecem ser classes superlotadas, com a diversidade movimentada por meio de hormônios e a figura do professor em meio a essas cenas. São sobre esses e outros fatos e fatores,  hierarquicamente construídos e constituídos pela sociedade e, por que não dizer pelo próprio sistema de Educação do país, sobre os quais pretendo refletir neste texto.

Elizabeth Halsey, personagem protagonista da trama, abomina sua profissão docente. No entanto, após ter perdido a chance da promissora e rica vida com o fim do noivado, para conseguir dinheiro, ela, agora, decide continuar a carreira de professora. E daí, pergunto realmente: será que para determinadas pessoas tornar-se professor, de modo geral, assim como naquela ficção, tem servido como um “pé de meia”, isto é, um “ganha pão” para muitos lares, ou consiste apenas nos discursos (in)questionáveis que muito ouço nos corredores educacionais?: “para ser professor, é preciso nascer com o dom”, “para ser professor, é preciso amar a profissão, senão desiste, o salário é baixo”.

A parte mais importante desse longa-metragem é o fato de que esses e outros clichés representam fatos reais, histórias únicas contadas. Parece que nunca se ouve o contrário e, por essa razão, tornam-se verdades dogmatizadas! Afinal, quem nunca ouviu um colega, um aluno, um filho, um parente, ou mesmo um conhecido dizer: “fiz tal curso de licenciatura, porque foi minha única opção!”. E aí?  

Lidar com determinados discursos é uma comédia, assim como a categoria do filme, mas, ao mesmo tempo, instigante e provocador, por ouvir estigmas constantes a desvalorizar a figura do professor. Por ignóbil sorte, isso não é ficção! Nesse ponto, considero necessário começarmos a narrar cenas que possam desconstruir aquilo que está implícito nas representações sociais. Não podemos criticar, tal qual os sábios de plantão no cinema o fazem em relação à narrativa do filme, a docência como uma história “constituída por muitos momentos monótonos e pelos clássicos clichés existenciais”. Mesmo sabendo que tais representações insistem em existir.

Em relação às atitudes da professora do filme, em alusão à vida real, muitos são os atores que cooperam para aquele enredo. E maiores são as cenas projetadas e desenvolvidas com base naquilo que aqueles produtores, os que mandam no roteiro, desejam para o filme. Vale lembrar que são eles os principais responsáveis pelas cenas planejadas e por altos salários para, apenas, idealizar como nós atuaremos na trama. Daí, eles poderiam mudar algumas vezes o espetáculo, né?!

Já os alunos daquela escola compõem os mais variados perfis e por que não dizer estereótipos: o gordinho que a própria Elizabeth faz questão de rotular, a bajuladora que lhe leva doces e também, por ser curiosa, flagra a professora sem classe usando droga no carro, o introvertido que não sabe lidar com a sexualidade. Mas a professora... coitada! Não é um bom modelo de professora. Inclusive, não seria uma referência para a musiquinha chata do governo sobre o “bom professor”. Além de custar a juntar seu dinheiro para comprar o que deseja, ela fuma maconha, não gosta dos alunos e tampouco de lecionar (mas está na sala de aula!), rouba e, ainda, sai impune. Pode até ser uma professora gostosa, que, inclusive desperta o tesão, mas é a Cameron Diaz, atriz de Hollywood, não se esqueçam!

De fato, no filme, é possível perceber algumas cenas bastante triviais em se tratando de situações de ensino real (ou ficcional?), de Educação e até mesmo da profissão docente. Ou não? (Acho que já estou me perdendo com a polissemia!). Nesse caso, para aquela personagem que está presente em muitos de nossos contextos, projetar um filme para enrolar a aula torna-se mais prático e parece, realmente, viabilizar aqueles dias de agosto em que o giz e a sequidão cortam a voz já rouca de tanto gritar ou de tanto ser agredida por conta da baixa umidade do ar! Mas, saibam: de modo algum condeno os filmes. Aliás, eles servem para refletir, como estou fazendo aqui!   

No final, sabemos que Elizabeth se deu bem no filme, mesmo não tendo classe. Entretanto, qual seria a verdadeira classe de um professor? Sei que não gosto dessa parte do filme. Amo ser professor e é exatamente por amar essa profissão que preciso problematizar discursos que me definem como coitadinho, como classe C, que eu sei que não sou. Quero acabar com essa parte e, talvez, com essa história!

Em relação a meus alunos, sinceramente, sempre vou preferi-los com classe. Sempre! Entretanto, eu sei que alguns deles, com tantas dificuldades econômicas que possuem, não teriam condições de comprá-la, já que são menos favorecidos. E se me perguntarem qual seria, então, a classe perfeita, a dos meus sonhos? Eu diria uma classe sem superlotação, sem distribuição de classes (gênero, raça, cor, classes sociais), mas aí já volto para a ficção.

E qual seria a moral da história? O roteiro do filme não traz, segundo a crítica cinéfila, porém a história real pode ser mudada processualmente! Vai depender apenas da forma como nós, professores, lidaremos, a partir de agora, com os discursos, com os rótulos imagináveis que nos rondam, com as práticas por nós efetivadas. Nenhum filme termina quando podemos ser os próprios diretores, produtores, autores. Há sempre uma (re)construção e uma nova possibilidade diante da motivação. Vamos lutar pela classe, sempre!